quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Texto muito legal!

Vamos ao Teatro?
Lázaro Ramos
Casa de classe média.22:30h. Roda de amigos. Todos bebem alegremente a sobra de champanhe da ultima festa da empresa de Melquesalem, até que José Carlos puxa um assunto que não tem nada ha ver com o que todos falavam até então. Até aquele momento já haviam falado sobre a Mulher Melão. Sobre o aumento de impostos. Sobre a novela dos fantasmas. Sobre a quantidade de pelos pubianos de determinada atriz que posou na “Só Boazudas “. Enfim… assuntos não faltavam. mas lá vai José Carlos e seus assuntos…
José Carlos -Em que mês nós estamos?
Tania - Novembro.
José Carlos - Quase é o fim do ano. Vocês já foram ao teatro esse ano?
Tania - Não. Teatro é muito chato e cafona.
Meirelles - Não. Só tem peça ruim.
Dos Santos -Não. Não achei nenhuma por esses tempos com ator que faz novela.
Janaina -Não. A ultima peça do meu primo que fui ver jogaram água no meu cabelo e eu tinha acabado de fazer escova progressiva.
Ivan -Não. A Ultima peça que fui ver só tinha palavrão.
Melquesalem -Não. A única peça que eu vi, tinha um cara nu, que tomava uns tapas na cara de uma atriz com cara de maluca e no fim ainda fizeram piada da minha careca.
Neste momento sem muito pensar e já se arrependendo do que ia dizer, José diz:
José Carlos – Tá vendo ai, quantas sensações diferentes o teatro provocou em voces.
E Após uma pequena pausa a sala estourou numa saraivada de gargalhadas e comentários jocosos com relação a frase recém escutada. José, que agora se resumia a um Zezinho, levantou-se e foi em direção ao balde de champanhe. Encheu sua taça, enquanto ouvia Janaina dizer: Ele só fala essas coisas porque na faculdade ele fazia aqueles textos engajados do Brecht, é um ator frustrado.
Comeu um pedaço do sanduíche a metro que agora poderia ser rebatizado de sanduíche a centímetro e pensou: Como é que eu vou conseguir explicar a eles o que o teatro me deu. Como vou dizer que vendo “Novas Diretrizes para tempos de Paz “ eu me tornei um ser humano melhor. Que eu me diverti e relaxei vendo tantas comédias que nem consigo citar apenas uma. De onde tirar argumentos para dizer o quanto aprendi e refleti com tantas peças do Bando de Teatro, do Teatro, do Oficina, Na praça Roosevelt, ou até mesmo nos festivais de teatro que eu pude ir. Será que eles entenderão que eu queria ser o Milton de Souza depois que eu o vi apenas uma vez numa montagem do “Rei Lear” , no dia 27 de abril de 1997,na cadeira p17 do Teatro Vila Alves. Como revelar que até hoje sou apaixonado pela Léa Bulbul que fazia a Dandara naquela montagem de “Fausto e Dandara”. José sabia da inconstância do teatro, da tendência do público nos seus gostos, mas mesmo assim, após comer os farelos do pão ele tomou uma decisão: Quando sair o meu salário eu vou comprar ingresso para todos irem ver a nova montagem de Galileu Galilei que estreou semana passada.
Virou-se e puxou outro assunto, para ele menos polêmico.
José Carlos – E ai turma, qual foi o último filme nacional que vocês viram?

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